quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Uma noite fantástica

Se estivesse vivo, Carlinhos completaria hoje, 53 anos de vida. Para homenageá-lo, compartilho um trecho do livro-reportagem biográfico que tive a honra de escrever sobre ele:

* * *
A rota Itajaí-Florianópolis já não era mais novidade para o músico Carlinhos Niehues. Apesar de morar em Itajaí, era na capital que encontrava as melhores oportunidades de trabalho. Tanta ida e vinda na BR-101, numa época em que duplicação era um projeto improvável, deixava a família com o coração na boca de preocupação. Mas sua carreira estava mesmo firmando-se por lá e a família teria que se acostumar ao vai-e-vem. Até porque não era muito comum, naquela época, os músicos locais terem seu talento reconhecido, por isso ele não poderia deixar a oportunidade passar.

No caso de Carlinhos, santo de casa mostrava os primeiros milagres. Sua presença frequente em programas da rede RBS, como o Sul em Canto, Nossos Músicos e de sua participação no CD Ilha de todos os sons, lhe renderam um convite para compor um jingle em comemoração aos 15 anos do Jornal do Almoço.

Assim, por encomenda, nasceu o rap “Comunicação”, última composição do músico, que une ritmo e melodia a grooves bem definidos, típicos do funk. Paralelo a esse trabalho, Carlinhos recebeu um convite para participar de uma Jam Session Especial que festejaria os 10 anos da rádio Itapema FM em Florianópolis. O show estava marcado para quinta-feira, 17 de novembro. Em meio a tantas comemorações, casualmente a festa da rádio aconteceria no dia do aniversário de Carlinhos, quando completaria 37 anos.

As Jams Sessions na capital já aconteciam com certa frequência naquela época. Criados nos Estados Unidos, esses eventos nasceram do encontro de músicos que, depois do trabalho em casas de shows ou bares, reuniam-se em outro local para tocar por prazer. Nas Jams originais, quem quisesse podia subir no palco para tocar. Dessa mistura de músicos e estilos nasceu o termo Jam, que em inglês quer dizer geléia. Há também quem garanta que Jam é a sigla para Jazz after midnight.

Dirigidas pelo músico Guinha Ramirez, as geléias musicais da capital eram patrocinadas pela Itapema FM. O diretor costumava convidar alguns músicos de Itajaí sempre que elas aconteciam. Figuras como Louise Lucena, Peninha, Daniel Monteiro, Arnou de Melo, além do próprio Niehues, já eram presenças conhecidas. Os shows aconteciam no bar Latitude 27, situado no alto do morro da Praia Mole. Um local ermo, com uma bela vista para a Lagoa da Conceição.

O casal Louise e Peninha não participou da festa naquela noite. Eles ficaram em Itajaí preparando-se para o show que fariam em Lages no mesmo fim de semana. Por isso, Carlinhos decidiu ir até a casa deles para despedir-se e ganhar abraços adiantados de feliz aniversário. Os votos de felicidade deixaram Louise muito emocionada, porque tinham “ares de despedida”.

Aquela noite prometia ser fantástica. E foi. Carlinhos, ao lado do cunhado e amigo Arnou de Melo, arrasou. “Era aniversário dele e a gente tocou junto a noite inteira! Fizemos um som legal. Quebramos tudo! Fizemos todos os sons, todos os solos! Foi uma noite linda, regada somente à música instrumental!”, relembra com saudades.

Além de parentes e amigos, os dois eram parceiros musicais. Juntos podiam experimentar novos sons, descobrir novos acordes, ousar. A geléia que faziam, no palco ou fora dele, funcionava. O entrosamento entre eles era tão perfeito que não precisavam olhar um para o outro ao tocar.

Pela maneira que um dava andamento à música, outro já sabia como acompanhar. Carlinhos buscava desvendar os mistérios da música e encontrava em Arnou o parceiro certo para isso.

Enquanto o palco pegava fogo com a performance dos dois, fora dele o público também vibrava com a música. Inclusive as irmãs Aninha e Lélia, esposas de Carlos e Arnou respectivamente. A festa foi extraordinária, especialmente para Aninha que havia se reconciliado recentemente com Carlinhos após um período de separação.

Antes de a festa acabar, por volta das três da manhã, Arnou, Lélia e Aninha resolveram voltar para Itajaí. No dia seguinte, Arnou iria para Lages, tocar com Louise, Peninha e Daniel Monteiro. Carlinhos abraçou Arnou... Abraçou Lélia... E ao se despedir de Aninha falou emocionado:

“Eu nunca deveria ter me separado de ti porque eu te amo pra caramba”.

Aninha entrou no carro do cunhado e do banco de trás pôde ver Carlinhos sorrindo, abanando para ela, mostrando o presente que acabara de ganhar de um amigo. A alegria dele naquele momento se traduziu em desespero para ela. Uma sensação de abandono a invadiu e foi impossível conter as lágrimas de um choro quase convulsivo.

“Calma – disse Lélia na tentativa de consolar a irmã – , amanhã ele já vai estar em Itajaí”.

3 comentários:

mariangela disse...

OI pessoal...
Acabei de ver no Jornal do Almoço Regional/RBS de Lages que a Louise Lucena está lançando seu segundo CD em Lages no teatro Marajoara e que neste CD tem várias músicas do meu irmão Carlinhos Niehues... estou muito emocionada, justamente hoje 16 anos de sua morte.

Obrigada Rochele pelo Bloq e poder mostar um pouquinho mais desse menino tão talentoso que aqui deixou marcas tão profundas...
Bjus
Mariangela Niehues Damo

Xelle disse...

Obrigada, Mariangela. Eu é que tenho a agradecer a honra. Bjo

mariangela disse...

oi Rochele,
vc tem alguns exemplares do livro que vc escreveu sobre a vida do Carlinhos?
Ontem escrevi algumas coisas sobre ele no meu Facebook e
tem vários amigos e parentens que gostariam de um exemplar?
Moro em Videira, mas posso pedir para algum mano meu comprar aí.
bj

qualquer coisa meu e mail é Mariangeladamo@hotmail.com